Deve ser chamado de “Sur” (ou seja, “South” em espanhol) a moeda única em estudo por Brasil e Argentina que pode revolucionar não só o comércio na América Latinamas também no resto do mundo. A ideia de uma moeda comum entre as duas maiores potências econômicas do continente nasceu há alguns anos, mas a chegada de Lula à frente do governo ouro-verde deu novo fôlego ao projeto.

Acordo histórico, rumo a uma nova moeda comum: o projeto de Brasil e Argentina

A intenção de adotar uma moeda que pode permitir que a economia sul-americana se liberte do dólar e concorra com o euro, o iene e o franco francês (marco na África Ocidental) já existe há algum tempo, mas recuperou força nos últimos meses.

O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, relançou a proposta ao seu homólogo brasileiro Fernando Haddad, no primeiro momento útil após a posse do governo Lula. Sob Bolsonaro, o ex-ministro da Fazenda, Paulo Guedes, havia sido dissuadido pelas dúvidas do Banco Central do Brasil, mas os trabalhos de cunhagem comum devem começar oficialmente no dia 25 de janeiro, por ocasião da visita do novo chefe de Estado a Buenos Aires (aqui havíamos falado sobre a eleição de Lula no Brasil e quanto ele ganha).

A moeda regional não levaria à eliminação do real (brasileiro) ou do peso (argentino), mas funcionaria em paralelocom o objetivo inicial de fortalecer o comércio entre os dois gigantes sul-americanos, reduzindo a dependência comercial do dólar americano.

O comércio entre Brasil e Argentina tem se tornado cada vez mais importante, atingindo um valor de 26,4 bilhões de dólares nos primeiros 11 meses de 2022, um aumento de 21% em relação ao mesmo período de 2021.

Mas se Brasília pode ostentar uma economia em crescimento no último ano, Buenos Aires continua lidando com a inflação próxima a 100% que aflige historicamente o país, forçado a imprimir dinheiro para financiar gastos (aqui falamos dos preços que enlouqueceram na Croácia após a adoção do euro).

Acordo histórico, rumo a uma nova moeda comum sul-americana: o projeto

No entanto, o projeto pretende envolver posteriormente as demais economias do continente, até estender-se à América Central, incluindo o México. Os 33 países da área discutem o tema na conferência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em andamento nestes dias em Buenos Aires.

O novo cenário político nascido na América do Sul, com a eleição de Lula no Brasil e primeiro de Borin no Chile e Petro na Colômbia, daria maiores possibilidades para a criação da moeda única, que em todo caso levaria anos e nos quais O ministro brasileiro Haddad expressou cautela.

Já o governo argentino se mostrou mais entusiasmado, confirmando o início das negociações entre os dois países nas palavras do chefe da Economia, Sergio Massa: “Sim, é verdade – declarou em entrevista ao Financial Times – vai ter… temos que começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum que inclua tudo: desde a questão fiscal até o tamanho da economia e o papel dos bancos centrais”.

“Seria um estudo de mecanismos de integração comercial. Mas – especificou – não quero criar falsas expectativas… é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer”.

O anúncio oficial do início dos trabalhos sobre a moeda única “Sur” deve ser feito nesta semana pelos presidentes da Argentina e do Brasil, Alberto Fernández e Luiz Inácio Lula da Silva.