Enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) está reunido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como “irresponsabilidade” uma nova manutenção no patamar da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, o patamar mais alto desde 2016. É consenso do mercado financeiro que a autoridade monetária deva decidir, pela quarta vez consecutiva, pela manutenção.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, 21, que a apresentação do novo arcabouço fiscal só deve ser feita em abril, depois de sua viagem para China. Segundo o presidente, não é preciso ter pressa e há que se ter tempo para discutir mais o modelo. O presidente ainda chamou de irresponsabilidade a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%.

“Uma coisa que eu acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75%, num momento em que a gente tem o juro mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda”, afirmou em entrevista ao site “Brasil 247”. “Eu vou continuar batendo, eu vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para que a economia possa ter investimento”, disse.

A declaração de Lula é uma volta do tom de maior confronto com a autoridade monetária desde meados de fevereiro, quando questionou a Selic e as metas de inflação, em 3,25% neste ano, com teto até 4,75%. De acordo com estimativas do mercado financeiro no último Boletim Focus, o IPCA deve encerrar o ano em 5,95%, bem acima do teto da meta.

Por essa pressão inflacionária persistente, há consenso no mercado que o BC deve manter os juros em 13,75%, mesmo com o aumento da pressão para uma queda nos juros, principalmente após a crise bancária que culminou com a quebra de dois bancos nos EUA. Nessa terça, centrais sindicais fazem manifestação contra o patamar da Selic. Além disso, ao menos quatro montadoras instaladas no país vão conceder férias coletivas em suas plantas pela queda da demanda, prejudicada pelo crédito encarecido.

Além de bater na taxa de juros, Lula voltou a subir o tom contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também alvo das manifestações de sindicatos. “Eu sinceramente acho que o presidente do Banco Central não tem compromisso com a lei que foi aprovada de autonomia do Banco Central. A lei diz que é preciso cuidar da responsabilidade da política monetária, mas é preciso cuidar da inflação também, é preciso cuidar do crescimento do emprego, coisa que ele não se importa”, disse.

No último mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou colocar panos quentes na relação entre o BC e o Planalto, abaixando o tom bélico vindo do governo. Segundo Haddad, uma das estratégias de sua pasta era mostrar sinais do lado fiscal para que o monetário também pudesse agir, isto é, baixando os juros. O ministro declarou em algumas ocasiões que pretendia apresentar o novo arcabouço fiscal antes da reunião do Copom. Porém, na última segunda-feira, sinalizou que o projeto e a reunião dos juros não estavam relacionadas. Na entrevista desta terça, Lula afirmou que a apresentação do projeto deve ficar apenas para abril, após ele retornar da viagem à China. Segundo o presidente, é necessário discutir mais a questão e não ter a pressa “que algumas pessoas do setor financeiro querem”.

Continua após a publicidade