O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou tecer comentários sobre a peça divulgada nesta quinta-feira, 30. Em entrevista coletiva dada ao mesmo tempo quem que Haddad detalhava a proposta das novas regras para a imprensa, o executivo-chefe da autarquia disse que ainda precisa analisar melhor o que está sendo proposto antes de projetar um possível impacto disso na redução da taxa de juros do país, hoje a 13,75% ao ano.
“A gente teve uma exposição ao arcabouço entendendo que havia ainda calibragem nos parâmetros. A gente vai olhar e analisar o que está sendo anunciado. O importante para a gente é como a gente incorpora isso nas nossas projeções. Nós não fazemos fiscal, mas nós incorporamos o fiscal nas nossas expectativas, na função de reação que o Banco Central tem”, afirmou Campos Neto.
Durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação por parte do diretor de Política Econômica do BC, Diogo Abry Guillen, a “incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública” foi mencionada como um dos principais fatores de risco para o país.
Campos Neto também aproveitou a ocasião para tentar colocar “panos quentes” na relação com integrantes do governo, sobretudo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — ele mencionou, inclusive, que os atritos após as divulgações do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os juros não é exclusividade do atual governo, uma vez que recebeu ligações nos últimos anos por parte do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. “Nós temos um bom relacionamento com a Fazenda. Eu tenho bastante convicção de que o ministro Haddad está muito bem intencionado e tem uma luta dura pela frente. Nós temos de reconhecer isso. Temos que trabalhar juntos”, afirmou o presidente do BC.
Campos Neto disse que a função da autarquia é se comunicar de forma mais clara e didática, fazendo com que a população entenda os benefícios das decisões por parte do BC e de sua autonomia. “Nós temos que fazer um trabalho técnico, precisamos explicar para a sociedade que esse trabalho tem um custo a curto prazo, mas que não fazê-lo tem um custo muito maior no futuro, e mostrar as vantagens de se ter uma inflação sob controle, especificamente do ponto de vista social”, afirmou ele. “Países que estão com inflação alta estão com aumento da pobreza extrema, onde os índices de confiança e de consumo do consumidor caem quase que imediatamente. Inclusive, para os empresários, a principal fonte de preocupação é a inflação. Então, acho que o nosso trabalho é explicar por que existe a autonomia, por que isso é importante para a sociedade e por que é importante manter a inflação sob controle.”
Na ocasião, o Banco Central comunicou a revisão de algumas projeções para o ano. O país deverá crescer, segundo a análise da autarquia, 1,2% em 2023 — a projeção anterior apontava para um avanço de 1%. O BC também prevê que o volume de crédito bancário crescerá 7,6% em 2023, contra previsão anterior de 8,3%. Segundo Campos Neto, há um processo de desaceleração no ritmo de crescimento do crédito, mas também há espaço para mais estímulos. “O que a gente tenta fazer é usar o princípio da separação, que ameniza ou evita uma crise mais extrema. No caso do Brasil, tem muito grau de liberdade na parte de estabilidade financeira para atuar. O nosso sistema é bastante sólido e tem liquidez”, afirmou.
Diretoria
Sobre os nomes para as posições de direção da autarquia, Campos Neto disse que não participou da escolha e que não comentaria os indicados especulados, uma vez que o governo ainda não oficializou as escolhas. Rodolfo Fróes teria sido escolhido para a diretoria de política monetária do BC, enquanto Rodrigo Monteiro fora escolhido para a diretoria de fiscalização da autarquia — o primeiro deve ser substituído depois de informações de postagens antipetistas dele nas redes sociais terem surgido. “Não temos participado das discussões. Não sei se os nomes são definitivos. E não tenho como fazer nenhum tipo de comentário, porque seria muito deselegante da minha parte”, disse ele.