A longa e enrolada novela da falência do grupo educacional carioca Galileo, dono das instituições de nível superior Universidade Gama Filho e UniverCidade, ganhou um novo capítulo. O juiz Fernando Cesar Ferreira Viana, da 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou a quebra de sigilo bancário e fiscal nos últimos cinco anos de quatro herdeiros do fundador da instituição, Ronald Guimarães Levinsohn, morto em 2020 aos 84 anos, e outras 18 empresas — a maioria agropecuária — e três associações educacionais ligadas à família. O objetivo é identificar operações que caracterizem o desvio de dinheiro das instituições de ensino que tiveram falência decretada em 2016 sem ter sequer condições de passar por um processo de recuperação judicial, de tão ruinosa que era a situação financeira do grupo.
O pedido de quebra de sigilo foi feito no início de março pela massa falida da Galileo Administração de Recursos Educacionais S.A. e Galileo Gestora de Recebíveis SPE e envolve a viúva de Levinsohn, Maria Henriqueta Vieira Levinsohn, as filhas Claudia Vieira Levinsohn e Priscila Vieira Levinsohn e o neto Mario Henrique Levinsohn. Ao todo, o rombo deixado pela falência do grupo supera meio bilhão de reais em dívidas com funcionários e fornecedores.
Gaúcho radicado no Rio, Ronald Levinsohn foi pivô de um grande escândalo financeiro nos anos 1980, quando sua empresa, o Grupo Delfin, quebrou frente à impossibilidade de quitar elevados endividamentos junto ao Banco Nacional da Habitação (BNH). O grupo geria cadernetas de poupança e era a maior empresa privada de crédito imobiliário da época, com mais de três milhões de depositantes. Liquidada a Delfin em meio a um rumoroso processo, o empresário manteve negócios no ramo imobiliário e agropecuário com fazendas localizadas principalmente no oeste baiano, a nova fronteira da soja no país. Também passou a se dedicar à Associação Educacional São Paulo Apóstolo (Assepa), mantenedora do Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade), que no seu auge chegou a ter 35 mil alunos.
O grupo Galileo foi formado em 2010 a partir da incorporação da Universidade Gama Filho, que na época tinha um dos mais importantes cursos de Medicina do Rio de Janeiro, e posteriormente foi expandido com a entrada da UniverCidade. O conglomerado recebeu investimentos dos fundos de pensão Postalis (Correios) e Petros (Petrobras) e contou com empréstimos bancários para financiar sua expansão, mas afundou pouco depois, em 2013. Os cursos foram descredenciados pelo Ministério da Educação em 2014, ano que marcou a derrocada definitiva das instituições. Segundo a ação apresentada pela massa falida do grupo, existia “uma relação umbilical entre Ronald e diversas sociedade utilizadas como meio para praticas fraudes, inclusive sediadas em paraísos fiscais, tendo como beneficiários diretos os seus próprios herdeiros, especialmente a sua viúva, as suas filhas e um de seus netos”.
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