O presidente Luiz Inácio Lula da Silva puxou a briga e o Banco Central reagiu à altura. Tudo no comunicado emitido pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, ao fim de uma de suas reuniões mais aguardadas dos últimos tempos, aponta para uma tensão prolongada. A mensagem central é que o BC não cederá a pressões. Sem a perspectiva consistente de um recuo da inflação, não haverá um respiro na taxa de juros, mantida ontem em 13,75%. E, se necessário, não serão descartados novos aumentos.
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Não poderia ser muito diferente, apesar da esperança manifestada nos últimos dias pela equipe econômica de que o comunicado trouxesse algum indicativo de trégua futura. Mesmo que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha se agarrado a um resiliente exercício de paciência, as circunstâncias falaram mais alto. Muitas delas criadas por Lula, pela ala política do governo e pela cúpula do PT, deixando pouca margem para cordialidade no debate sobre o atual patamar da Selic.
Apesar da tensão que permeia o documento, ficou evidente um esforço do BC para reconhecer o empenho do ministro da Fazenda. Isso ocorreu, em especial, no trecho em que o colegiado admite que a decisão de reonerar os combustíveis “reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo”. Haddad brigou com unhas e dentes pela volta dos tributos. Assim como batalhou para apresentar o novo arcabouço fiscal antes da reunião do Copom, embora a proposta tenha empacado na ala política do governo.
Se o tom do comunicado de ontem guiar as relações entre o Banco Central e o governo no futuro próximo, é de se esperar que o clima permaneça tenso. Mas vale olhar com atenção para a ata do encontro, de onde podem sair detalhes capazes de aliviar as divergências. Seja como for, Haddad parece ser visto pelo time de Roberto Campos Neto como um último elo para o diálogo.
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