Apesar da crescente pressão para redução dos juros, inclusive com declarações fortes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Banco Central manteve a taxa básica de juros, a Selic, em seu patamar de 13,75% ao ano. Com autonomia formal, o banco não responde ao chefe do Executivo ou de qualquer outro Poder, fato escancarado pela deliberação desta quarta-feira, 22. Não apenas os juros não foram abaixados, mas devem seguir elevados, indica o comunicado do Comitê de Política Monetária do BC, apesar dos sinais de desaceleração na demanda doméstica e global.
“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz o texto assinado por Campos Neto, expressando que há apenas um elemento capaz de fazer o banco virar a chave: a melhora da inflação, convergindo em direção à sua meta. Nesse sentido, há razão para crer que os juros altos não devem ser abandonados tão cedo.
De acordo com último Boletim Focus, que reúne as impressões do mercado acerca de questões macroeconômicas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2023 em 5,95% ao ano. Na ampla maioria das edições do Boletim publicadas neste ano, a expectativa do mercado em relação à inflação tendeu a piorar. Enquanto isso, o teto da meta de inflação segue o mesmo, em 4,75%. Com isso, o cenário não é otimista para o encontro com a meta e, em resposta, para a queda dos juros. Passada a reunião do Copom, analistas já levam em conta a possibilidade de flexibilização da política monetária, no melhor dos casos, apenas na segunda metade do ano. “Trabalhamos com um cenário em que juros continuarão altos por mais tempo, talvez com queda apenas no segundo semestre e em menor magnitude”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos. Nesse sentido, Bertotti destaca o pessimismo do mercado em relação ao IPCA. “Observamos uma evolução da difusão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,84% em fevereiro. No mês anterior, o avanço foi de 0,53%”, diz.
Também apontando para uma possível queda nos juros somente no segundo semestre, Idean Alves, sócio da Ação Brasil Investimentos, classificou o tom do Banco Central como sóbrio e duro, contrário da leveza esperada por investidores mais otimistas. “O inverno continua e, segundo o Banco Central, vai ser longo”, diz. Já o economista André Perfeito, chama a atenção especialmente para a mentalidade do BC nesta conjuntura econômica. “O recado é simples: se a inflação não cair o BC não irá cortar os juros. Não sabemos o quanto seria necessário cair para dar o sinal verde para algum corte, uma vez que para o BC a questão na mesa é a inflação e somente essa”, diz. Com isso, fica evidente que o argumento de que a inflação seria de oferta, não de demanda, e, por isso, não poderia ser combatida com juros não convence o banco. Para atender à vontade do BC de Campos Neto, os olhos têm de estar voltados aos números do IPCA.
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