O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que não há uma divisão entre a ala política e a ala econômica do governo sobre a construção do novo arcabouço fiscal. O projeto, apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sexta-feira, ainda não foi divulgado pelo governo e deve passar por conversas entre a pasta e os presidentes da Câmara e do Senado.
“Não vejo essa divisão no governo, ala política e ala econômica, nem sei do que se trata, fui candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores. Sou de que ala? Não faz sentido esse tipo de divisão, toda decisão é técnica e política, ainda mais uma decisão dessa importância, por isso que é o presidente da República que dá a última palavra”, afirmou nesta segunda-feira, 20.
No último sábado, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu em suas redes sociais a necessidade de aumentar os investimentos públicos, defendendo uma política fiscal expansionista. “Se é verdade que a economia crescerá menos neste ano, segundo indicadores divulgados pelo governo, precisamos, então, aumentar os investimentos públicos e não represar nenhuma aplicação no social”, escreveu a presidente do PT no Twitter. “Em momentos assim, a política fiscal tem de ser contracíclica, expansionista”, completou Gleisi.
O ministro da Fazenda vem reafirmando a necessidade de diminuir o déficit público e conta com o arcabouço fiscal, substituto do teto de gastos, para esse fim, junto com outras ações do governo como um pacote de aumento de receitas que, entre outras coisas, reonerou impostos federais sobre a gasolina — medida criticada por Gleisi e outros membros da ala política.
Segundo Haddad, a última palavra será de Lula. “Ele é o primeiro a dizer que não vê incompatibilidade entre responsabilidade social e fiscal, temos que encontrar essa linha fina”, afirmou a jornalistas. No início da tarde, Haddad estava a caminho da residência oficial de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e deve também conversar com líderes partidários sobre a proposta.
Ao ser questionado se o arcabouço fiscal será divulgado antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, Haddad desconversou e afirmou que o Banco Central tem sua própria dinâmica e que o governo não iria atropelar a proposta para aumentar a pressão sobre os juros. “O Copom tem a sua dinâmica, não podemos atropelar o processo de conversa porque tem que sair uma coisa sólida, sóbria, que faça sentido para as pessoas, e não vai ser o açodamento que vai nos levar a essa situação”, disse. O Copom se reúne na terça e quarta-feira, com a decisão sobre os juros sendo anunciada no dia 22.
O ministro afirmou que torcerá para que o texto seja apresentado ainda nesta semana, antes da viagem do presidente e ministros à China e que haverá tempo para que o novo arcabouço sirva de base para a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que precisa ser apresentada até 15 de abril.