O agronegócio é o principal setor exportador do país e um importante motor para a economia brasileira, mas influenciou negativamente para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos meses. Ele foi o único a registrar queda no quarto trimestre de 2022, contribuindo com o menor crescimento da economia brasileira.
O PIB avançou 2,9% em 2022, com um recuo de 0,2% no último trimestre em comparação com o período anterior. O Brasil havia registrado crescimento nos últimos cinco trimestres, mas, segundo especialistas os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, adotados pelo Banco Central desde 2021, começam a impactar mais intensamente a economia. A queda não foi tão acentuada devido ao desempenho da indústria, que subiu 1,6%, e dos serviços, que foi o grande responsável pelo bom resultado, com avanço de 4,2%. Juntos, eles representam cerca de 90% do PIB.
A agropecuária, no entanto, seguiu na direção oposta e recuou 1,7% no período. Segundo Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, o resultado interrompe uma série de crescimentos que vêm desde 2017 até 2021. “Essa queda, além de ser a pior desde 2016 (-5,2%), também ficou aquém da previsão dos analistas que esperavam queda de 1,1%”, diz. Entre os destaques negativos por tipo de cultivo, os piores foram a soja, arroz e fumo. Os cultivos que ajudaram e impediram queda maior foram café, cana e milho, com a abertura para a China. “O agro foi o grande vilão do quarto trimestre devido à queda na produção da soja, que foi impactada por eventos climáticos — o que ocasionou uma queda de 11,4% na produção afetando assim o resultado do setor”, diz Jansen Costa, socio da Fatorial Investimentos.
Na comparação com o mesmo período de 2021, a queda é ainda maior, de 2,9%, com destaque para produtos como mandioca (-1,6%), fumo (-7,1%) e batata inglesa (-2,4%), cujas safras são significativas no quarto trimestre e apresentaram queda na estimativa de produção anual e perda de produtividade. O economista-chefe da Ecoagro, Antônio da Luz, avalia que a baixa é resultado de estiagens em parte do Brasil, que também afetou concorrentes como EUA, Europa e Argentina. “Apesar da estiagem no Sul, o PIB agropecuário será vital para o crescimento do Brasil neste ano”, diz.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP (Cepea), o setor teve recuos sucessivos ao longo dos três primeiros trimestres do ano, acumulando queda de 4,28% de janeiro a setembro de 2022. O Cepea estima que a participação do setor no total fique por volta de 25% em 2022, pouco abaixo dos 27% registrados em 2021 – isso porque a queda deste ano se verifica frente ao patamar recorde de PIB alcançado em 2021. “O resultado negativo do PIB do ramo agrícola decorreu especialmente da forte alta dos custos com insumos para a produção agrícola (dentro da porteira), como fertilizantes, defensivos, combustíveis, sementes e outros. Além disso, o PIB agrícola também segue pressionado pela redução da produção em culturas importantes, especialmente soja e cana-de-açúcar. Além dessas duas atividades, que detêm peso expressivo no PIB, estima-se menor produção no ano para o arroz, a batata, o fumo, a mandioca, o tomate, a uva e a madeira em tora”, avalia o Cepea.
Diferente dos dados oficiais do IBGE, o PIB do agronegócio contado pelo Cepea engloba todo o segmento e as evoluções de volume e dos preços reais, enquanto o IBGE considera o volume produzido “dentro da porteira”.